Os BRIC´s não Brincam!
Se calhar não sabem o que são os BRIC´s? Quer dizer, saber sabem, mas aquela sigla é complicativa, até parece o nome de uma marca de cerveja. Os BRIC´s são, nada mais nada menos, os países que se posicionarão entre as 6 maiores economias mundiais, lá para meados deste Século XXI: Brasil, Rússia, Índia e China. Admirados? Não é caso para isso, vou já explicar tudo como deve ser.
Depois de muitas décadas de espera, tudo indica que estes quatro países irão entrar, à vez, a partir de 2040 - 2050, para o grupo dos países com maior poder económico do mundo, passando a integrar o G6, juntamente com os EUA e o Japão, ao mesmo tempo que desalojam os restantes. Embora continuem a ter, mesmo nessa altura, uma população comparativamente bastante menos rica do que estes, terão direito à honrosa etiqueta de grandes potências económicas, embora o título de superpotência se deva manter na posse dos Estados Unidos da América.
Mas, surpresa das surpresas, se os pressupostos não muito ousados de crescimento se concretizarem, a China ultrapassará o PIB dos EUA já em 2041, tornando-se a maior economia do mundo!
Claro que, por exemplo, também a Alemanha, a França e o Canadá falham completamente esta corrida, por não disporem dos factores decisivos para um crescimento real relevante: crescimento do emprego utilizando tecnologias avançadas, maior produtividade e progresso técnico e obtenção de elevados montantes de investimento directo estrangeiro.
Mas vamos lá fazer uma breve incursão no tempo até ao ano 2050 e já voltamos. Não é ficção científica, é tão-somente tentar antecipar a realidade, económica e sociológica. E, que diabo, também não falta assim tanto tempo como isso!
Preparem-se e façam por aguentar firme, pois as próximas cenas podem ser demasiado realistas e cruas para pessoas mais sensíveis. É o futuro em toda a sua plenitude que vai perpassar em frente dos nossos olhos, no ano 2050.
Vamos encontrar os EUA com uma grande maioria da sua população de origem não anglo-saxónica, onde avultará a comunidade de raiz hispânica, com grande taxa de natalidade. É verdadeiramente o que se pode chamar um outro Novo Mundo, em que os EUA irão perdendo posição relativa para os BRIC´s, sem contudo deixarem de ser a economia onde o rendimento per capita é o mais elevado e com uma subida sustentada ao longo dos anos.
Graças a taxas reais de crescimento médias superiores no longo prazo (entre 5% e 7%), a China e a Índia poderão ultrapassar, respectivamente, o PIB dos EUA (em 2041) e o do Japão (2032). É de notar que se prevê que os EUA cresçam a uma taxa real média de 2% ao ano até 2050.
Especialmente por motivos de diferença sensível nas taxas de natalidade, a actual União Europeia deixará de ter mais 90 milhões de habitantes do que os EUA, como agora acontece, para passar a ter menos 50 milhões, em 2050. Uma nota para referir que a imigração não permitirá solucionar problemas da Europa em termos de escassez de mão-de-obra e desenvolvimento, atendendo a que os imigrantes tendem a ter poucos filhos no seu novo país, especialmente na 1ª. geração.
Neste quadro, a União Europeia como um todo, supondo que se mantém a sua unidade política, fica com uma dimensão económica muito inferior, representando em 2050, somente 27% da China, 33% dos EUA e 40% da Índia. De qualquer modo, considerada como se fosse um País, seria à vontade a 4ª. economia do mundo, a seguir a estes três países.
Um aspecto que necessita ser realçado é o facto de as maiores economias do mundo (pelo PIB) deixarem de ser, na maioria dos casos, as mais ricas (pelo rendimento per capita).
O estudo recente da Goldman Sachs, em que me estou principalmente a basear, é tecnicamente bastante credível. No entanto, existem determinados pressupostos chave cuja alteração poderá implicar uma modificação substancial no quadro de situação para as próximas décadas.
Mas se os pressupostos se materializarem teremos a seguinte ordenação dos principais países, em termos de PIB e de Rendimento per capita, em 2050:
PIB (em biliões de USD) PIB per Capita (em USD)
1 – China 44.453 1 – E.U.A. 83.710
2 – E.U.A. 35.165 2 - Japão 66.805
3 - Índia 27.803 3 – Grã-Bretanha 59.122
4 – Japão 6.673 4 – França 51.594
5 – Brasil 6.074 5 – Rússia 49.646
6 – Rússia 5.870 6 – Alemanha 48.952
7 – Grã-Bretanha 3.782 7 – Itália 40.901
8 – Alemanha 3.603 8 – China 31.357
E, perguntarão, qual o papel de Portugal no meio desta dinâmica toda? Ora essa, nós pertencemos à União Europeia, as coisas têm que ser vistas no conjunto desta, como um todo. Ah! Não pode ser?! Não é cientificamente correcto porque somos um país soberano? Pronto, está bem, então vamos lá analisar isso rapidamente.
Pelas minhas contas, no ano 2050, a União Europeia já deve contar, pelo menos, com 33 países. Isto, depois da entrada dos novos 10 membros em Maio de 2004, da Roménia e Bulgária em 2007, logo a seguir da Croácia e, alguns anos depois, do conjunto formado pela Turquia, Sérvia-Montenegro, Bósnia-Herzegovina, Macedónia e Albânia. Embora discutível, deixo de fora a Suíça, Noruega e Islândia, pelo desinteresse até agora manifestado, e a Ucrânia, Bielorrússia e Moldova, por falta de contactos nesse sentido e pela complexidade das eventuais negociações, que teriam de envolver a Rússia.
Está-se mesmo a ver que o objectivo de Portugal será sempre qualquer coisa do estilo, apanhar o pelotão da frente (nessa altura mais alargado) ou sermos um dos melhores dos pequenos países do sul da Europa.
Claro que se alguém quiser fazer aos países da UE alargada, um estudo semelhante ao dos BRIC´s, dá-me a impressão que as surpresas também serão muitas e talvez não muito agradáveis para nós.
segunda-feira, novembro 24, 2003
sábado, novembro 15, 2003
A Teoria dos Três R´s
A Teoria dos Três R´s
Será agora que a nossa EDP arranca? O Euro não consegue por agora subir mais um pouco e vai fazer uma correcção para ganhar forças? A situação político-económica japonesa impõe neste momento um acompanhamento mais apertado? E, muito importante, o ouro vai mesmo passar os 400 dólares como se fosse uma flecha?…
Estas e outras questões necessitam de resposta, acompanhamento e acção.
Mas a vida é só isto? Claro que era bom que pudéssemos viver dos ganhos nos mercados financeiros, mas mesmo assim, há mais coisas, existem outros interesses, é imprescindível alargar os horizontes!
Vamos mesmo abrir um parêntesis na nossa vida semanal e fazer uma pequena sessão de relax, aplicando o sistema dos 3 R´s do trader de sucesso (Rest, Relaxation, Research).
Então vamos falar de viagens? Bolas, isso é um bocado banal. Não, eu gosto mesmo é de as fazer, vamos escolher outro tema!
Discutir a nossa situação política e a contribuição do nosso país no esforço para estreitar os laços … bla bla bla bla bla bla … Bem, isso não vai descontrair nada, até porque há alguns dramas em curso. O melhor é ficar para uma outra vez.
Ahh! Já sei, desporto… talvez futebol, estão interessados em futebol? Não? Porque é outra vez uma misturada de política e … pois, é melhor não. Se calhar podíamos falar das outras modalidades desportivas, agora que começam a estar próximos os Jogos Olímpicos. Mas, talvez, não mencionando aquele novo produto que afinal era tão dopping ou mais que os outros todos. Mas assim não fica quase nada para falar, não é? Também me parece!
Estou a ver, não têm coragem de confessar, mas o que gostavam mesmo era de uma boa dica, de uma opinião certeira, de dados que justificassem aquela subida desafiadora ou aquela descida quase infame, com bases técnicas e fundamentais tão promissoras.
Mas não, não me convencem, agora vamos mesmo fazer um intervalo. E como não há alternativa, vou mesmo falar de um das raras coisas que neste ano da graça de 2003, me interessou e entusiasmou. Estou a referir-me ao livro “Equador” de Miguel Sousa Tavares.
Fiz a leitura deste livro, com mais de 500 páginas, de uma forma mais do que interessada, avassaladora, quase obsessiva, não descansando enquanto não o terminei. Eu sou um crónico leitor de inícios de livros - que são depois postos de lado, de livros corajosamente levados até metade – que depois ficam para acabar mais tarde, de livros policiais desprezados – excepto de dois ou três autores, de livros escolhidos até à exaustão – sempre com um critério muito apertado. É por isso que ter gostado tanto do “Equador” é um caso fora do comum, que só me acontecia quando lia, em criança, Emilio Salgari, e depois, já quase adulto, Eça de Queiroz.
Para mim o livro é extraordinariamente interessante a vários níveis.
Primeiro, porque a sua escrita é sempre inteligente, criando um ambiente de realismo quase palpável. E isso ligado a um estilo fluente e sólido, com desenvolvimentos inesperados, que faz com que acompanhemos a acção com interesse crescente.
Para além disso, o tema, que partiu de uma situação verídica, é de uma densidade assombrosa, com uma história tão humana quanto heróica, e que merece ter sido romanceada a tão alto nível.
Sousa Tavares, anda talvez a perder-se na sua função qualificada mas menos importante de comentador. Ele, que discorre e emite opiniões sobre os mais variados casos e assuntos do nosso país, numa tarefa árdua e que provoca muitos ódios de estimação, não pode dessa maneira ficar com o tempo e a paz de espírito suficientes para ser o romancista que ele pode ser.
Mas voltando ao livro, um dos seus aspectos centrais vai buscar muito à condição de ser português, daquele que tenta cumprir os ditames da honra como primeiro objectivo. Mas na vida, não basta pensar que se tem razão, é preciso algo mais, ver mais longe. É necessário ter uma percepção muito clara sobre a viabilidade da reacção dos outros: será que eles poderão, quererão ou estarão dispostos a ser convencidos da nossa razão?
No plano estritamente individual, se em consciência pudermos antever que as nossas certezas não têm condições de vingar, só há uma saída: seguir outro caminho e não ter que dar contas a ninguém.
A Teoria dos Três R´s
Será agora que a nossa EDP arranca? O Euro não consegue por agora subir mais um pouco e vai fazer uma correcção para ganhar forças? A situação político-económica japonesa impõe neste momento um acompanhamento mais apertado? E, muito importante, o ouro vai mesmo passar os 400 dólares como se fosse uma flecha?…
Estas e outras questões necessitam de resposta, acompanhamento e acção.
Mas a vida é só isto? Claro que era bom que pudéssemos viver dos ganhos nos mercados financeiros, mas mesmo assim, há mais coisas, existem outros interesses, é imprescindível alargar os horizontes!
Vamos mesmo abrir um parêntesis na nossa vida semanal e fazer uma pequena sessão de relax, aplicando o sistema dos 3 R´s do trader de sucesso (Rest, Relaxation, Research).
Então vamos falar de viagens? Bolas, isso é um bocado banal. Não, eu gosto mesmo é de as fazer, vamos escolher outro tema!
Discutir a nossa situação política e a contribuição do nosso país no esforço para estreitar os laços … bla bla bla bla bla bla … Bem, isso não vai descontrair nada, até porque há alguns dramas em curso. O melhor é ficar para uma outra vez.
Ahh! Já sei, desporto… talvez futebol, estão interessados em futebol? Não? Porque é outra vez uma misturada de política e … pois, é melhor não. Se calhar podíamos falar das outras modalidades desportivas, agora que começam a estar próximos os Jogos Olímpicos. Mas, talvez, não mencionando aquele novo produto que afinal era tão dopping ou mais que os outros todos. Mas assim não fica quase nada para falar, não é? Também me parece!
Estou a ver, não têm coragem de confessar, mas o que gostavam mesmo era de uma boa dica, de uma opinião certeira, de dados que justificassem aquela subida desafiadora ou aquela descida quase infame, com bases técnicas e fundamentais tão promissoras.
Mas não, não me convencem, agora vamos mesmo fazer um intervalo. E como não há alternativa, vou mesmo falar de um das raras coisas que neste ano da graça de 2003, me interessou e entusiasmou. Estou a referir-me ao livro “Equador” de Miguel Sousa Tavares.
Fiz a leitura deste livro, com mais de 500 páginas, de uma forma mais do que interessada, avassaladora, quase obsessiva, não descansando enquanto não o terminei. Eu sou um crónico leitor de inícios de livros - que são depois postos de lado, de livros corajosamente levados até metade – que depois ficam para acabar mais tarde, de livros policiais desprezados – excepto de dois ou três autores, de livros escolhidos até à exaustão – sempre com um critério muito apertado. É por isso que ter gostado tanto do “Equador” é um caso fora do comum, que só me acontecia quando lia, em criança, Emilio Salgari, e depois, já quase adulto, Eça de Queiroz.
Para mim o livro é extraordinariamente interessante a vários níveis.
Primeiro, porque a sua escrita é sempre inteligente, criando um ambiente de realismo quase palpável. E isso ligado a um estilo fluente e sólido, com desenvolvimentos inesperados, que faz com que acompanhemos a acção com interesse crescente.
Para além disso, o tema, que partiu de uma situação verídica, é de uma densidade assombrosa, com uma história tão humana quanto heróica, e que merece ter sido romanceada a tão alto nível.
Sousa Tavares, anda talvez a perder-se na sua função qualificada mas menos importante de comentador. Ele, que discorre e emite opiniões sobre os mais variados casos e assuntos do nosso país, numa tarefa árdua e que provoca muitos ódios de estimação, não pode dessa maneira ficar com o tempo e a paz de espírito suficientes para ser o romancista que ele pode ser.
Mas voltando ao livro, um dos seus aspectos centrais vai buscar muito à condição de ser português, daquele que tenta cumprir os ditames da honra como primeiro objectivo. Mas na vida, não basta pensar que se tem razão, é preciso algo mais, ver mais longe. É necessário ter uma percepção muito clara sobre a viabilidade da reacção dos outros: será que eles poderão, quererão ou estarão dispostos a ser convencidos da nossa razão?
No plano estritamente individual, se em consciência pudermos antever que as nossas certezas não têm condições de vingar, só há uma saída: seguir outro caminho e não ter que dar contas a ninguém.
sábado, novembro 08, 2003
O Exemplo da Srª. Blumkin
Não foi propriamente uma paixão louca, guiada pelo coração e alheia a tudo o resto. Muito menos se tratou de um amor à primeira vista. Mas poderá sem dúvida afirmar-se que, como muitas vezes acontece, foi o homem que tomou a iniciativa, que pacientemente a seguiu e, por fim, a convenceu. Esta é também uma ligação que triunfou, apesar de alguma oposição da família dela.
Aconteceu em 1983, no Nebraska, a Srª. Rose Blumkin tinha 90 anos e Warren Buffett estava a caminho de se tornar um dos homens mais ricos da América.
Quando, depois de longo estudo e acompanhamento, Buffett comprou a sua empresa de mobílias, a mais competitiva e rentável dos E.U.A. no seu ramo, a Srª. Blumkin, ainda detentora de 10% do capital, continuou muito naturalmente a trabalhar na empresa, no seu lugar de Presidente do Conselho de Administração, e disposta a imprimir-lhe a sua costumada e extraordinária dinâmica.
Como grande investidor de longo prazo, Warren Buffett detém inúmeras empresas muito lucrativas e de elevado crescimento. Actualmente, com duas dezenas de biliões de dólares em dinheiro para aplicar, ele não consegue encontrar activos que o possam realmente entusiasmar. Isso não é mais do que o reflexo de uma economia mundial ainda com muitas interrogações. Por um lado a falta de motivação, por outro o facto de o seu império empresarial quase andar por si próprio, faz quase ter pena do nosso amigo, sem ocupações suficientes para passar o tempo…
É exactamente esta a altura que Portugal deveria escolher para preparar o envio de uma delegação, com todos os poderes, para cativar este multibilionário, momentaneamente desincentivado, levando-o a interessar-se pelo problema económico-financeiro português, de forma a poder orientar-nos e criar uma estratégia para a nossa recuperação, que de outro modo se afigura muito problemática.
Na prática, o objectivo seria convencê-lo a tornar-se o consultor financeiro da República Portuguesa. Se ele alguma vez aceitasse, o seu preço nunca seria demasiado caro, disso poderíamos ter a certeza. Por outro lado, não estaria em causa o nosso interesse no dinheiro dele para investir em Portugal. Não, o que nós precisamos é que ele, com a sua capacidade de intervenção a nível mundial, nos proporcione a entrada de novos investimentos estrangeiros a sério, quer em montante quer em importância de projectos, para o desenvolvimento acelerado do nosso País. A brincar, a brincar, depois de tudo o que Buffett já fez na vida, se calhar esta tarefa até seria interessante – endireitar um País que precisa de um milagre para crescer (estou de acordo com Silva Lopes, só que milagres não há!).
Era como se ficássemos com uma Agência Portuguesa para o Investimento nº.2, a juntar à que já existe no Porto, sendo esta outra informal, em Omaha, Nebraska, com um objectivo reforçado de captar negócios internacionais para o nosso país, pondo multinacionais a investir, grandes projectos a arrancar, massa cinzenta a ser aproveitada, o Governo a deixar de complicar, o Belmiro a aplaudir, … Uff!! A perspectiva não era má!
Então, um dia destes, poderíamos começar a esboçar um sorriso, ou mesmo, que diabo, um riso sereno para desenferrujar os músculos da cara, espantando esta tristeza e melancolia que quase nos abate.
Não me digam que não tinha piada, com mais ou menos hipérboles, arranjando a dose certa de realismo, não acham que isto tem mesmo de ser feito? É que, um ano destes, seremos muito provavelmente o 25º e último país da União Europeia e vamos continuar a ouvir uma história de um qualquer chefe político, de serviço na altura, a afiançar que lá para o ano 2043, estaremos de certeza perto da média da União (média essa que, entretanto, terá descido bastante com a entrada dos 10 novos países).
Não queremos isso, pois não? Eu, pelo contrário, já me vejo nesse outro futuro, onde ganharemos nova alma e uma personalidade revigorada, e onde, de tão lançados que estaremos, deixarão de ter importância muitas partes gagas da nossa classe política.
Num panorama desses, já ninguém se importaria que viesse para Presidente da nossa República, aquele senhor engenheiro que esteve a tentar ajudar o Lula a fazer política social no Brasil. E nós ralados!...
Um abraço e …
Espero as vossas empenhadas ideias para pôr de pé este sublime desígnio de convencer o Buffett (o engenheiro não é preciso convencer!). Tudo sob o lema que resumiria o nosso novo modo de ser: “Cuidado, vamos ser um País de sucesso!”
Comentador
Nota
Fica desde já prometido que um dia contarei, em traços gerais, a história da vida de Rose Blumkin. Posso adiantar que é uma vida extraordinária, vivida com determinação, verdade, profissionalismo e muito trabalho. Umas vezes comovente, outras vezes inacreditável, a sua vida pode considerar-se única e é com inveja que digo que ela esteve sempre, mas sempre, muito acima de pessoas normais como nós.
Não foi propriamente uma paixão louca, guiada pelo coração e alheia a tudo o resto. Muito menos se tratou de um amor à primeira vista. Mas poderá sem dúvida afirmar-se que, como muitas vezes acontece, foi o homem que tomou a iniciativa, que pacientemente a seguiu e, por fim, a convenceu. Esta é também uma ligação que triunfou, apesar de alguma oposição da família dela.
Aconteceu em 1983, no Nebraska, a Srª. Rose Blumkin tinha 90 anos e Warren Buffett estava a caminho de se tornar um dos homens mais ricos da América.
Quando, depois de longo estudo e acompanhamento, Buffett comprou a sua empresa de mobílias, a mais competitiva e rentável dos E.U.A. no seu ramo, a Srª. Blumkin, ainda detentora de 10% do capital, continuou muito naturalmente a trabalhar na empresa, no seu lugar de Presidente do Conselho de Administração, e disposta a imprimir-lhe a sua costumada e extraordinária dinâmica.
Como grande investidor de longo prazo, Warren Buffett detém inúmeras empresas muito lucrativas e de elevado crescimento. Actualmente, com duas dezenas de biliões de dólares em dinheiro para aplicar, ele não consegue encontrar activos que o possam realmente entusiasmar. Isso não é mais do que o reflexo de uma economia mundial ainda com muitas interrogações. Por um lado a falta de motivação, por outro o facto de o seu império empresarial quase andar por si próprio, faz quase ter pena do nosso amigo, sem ocupações suficientes para passar o tempo…
É exactamente esta a altura que Portugal deveria escolher para preparar o envio de uma delegação, com todos os poderes, para cativar este multibilionário, momentaneamente desincentivado, levando-o a interessar-se pelo problema económico-financeiro português, de forma a poder orientar-nos e criar uma estratégia para a nossa recuperação, que de outro modo se afigura muito problemática.
Na prática, o objectivo seria convencê-lo a tornar-se o consultor financeiro da República Portuguesa. Se ele alguma vez aceitasse, o seu preço nunca seria demasiado caro, disso poderíamos ter a certeza. Por outro lado, não estaria em causa o nosso interesse no dinheiro dele para investir em Portugal. Não, o que nós precisamos é que ele, com a sua capacidade de intervenção a nível mundial, nos proporcione a entrada de novos investimentos estrangeiros a sério, quer em montante quer em importância de projectos, para o desenvolvimento acelerado do nosso País. A brincar, a brincar, depois de tudo o que Buffett já fez na vida, se calhar esta tarefa até seria interessante – endireitar um País que precisa de um milagre para crescer (estou de acordo com Silva Lopes, só que milagres não há!).
Era como se ficássemos com uma Agência Portuguesa para o Investimento nº.2, a juntar à que já existe no Porto, sendo esta outra informal, em Omaha, Nebraska, com um objectivo reforçado de captar negócios internacionais para o nosso país, pondo multinacionais a investir, grandes projectos a arrancar, massa cinzenta a ser aproveitada, o Governo a deixar de complicar, o Belmiro a aplaudir, … Uff!! A perspectiva não era má!
Então, um dia destes, poderíamos começar a esboçar um sorriso, ou mesmo, que diabo, um riso sereno para desenferrujar os músculos da cara, espantando esta tristeza e melancolia que quase nos abate.
Não me digam que não tinha piada, com mais ou menos hipérboles, arranjando a dose certa de realismo, não acham que isto tem mesmo de ser feito? É que, um ano destes, seremos muito provavelmente o 25º e último país da União Europeia e vamos continuar a ouvir uma história de um qualquer chefe político, de serviço na altura, a afiançar que lá para o ano 2043, estaremos de certeza perto da média da União (média essa que, entretanto, terá descido bastante com a entrada dos 10 novos países).
Não queremos isso, pois não? Eu, pelo contrário, já me vejo nesse outro futuro, onde ganharemos nova alma e uma personalidade revigorada, e onde, de tão lançados que estaremos, deixarão de ter importância muitas partes gagas da nossa classe política.
Num panorama desses, já ninguém se importaria que viesse para Presidente da nossa República, aquele senhor engenheiro que esteve a tentar ajudar o Lula a fazer política social no Brasil. E nós ralados!...
Um abraço e …
Espero as vossas empenhadas ideias para pôr de pé este sublime desígnio de convencer o Buffett (o engenheiro não é preciso convencer!). Tudo sob o lema que resumiria o nosso novo modo de ser: “Cuidado, vamos ser um País de sucesso!”
Comentador
Nota
Fica desde já prometido que um dia contarei, em traços gerais, a história da vida de Rose Blumkin. Posso adiantar que é uma vida extraordinária, vivida com determinação, verdade, profissionalismo e muito trabalho. Umas vezes comovente, outras vezes inacreditável, a sua vida pode considerar-se única e é com inveja que digo que ela esteve sempre, mas sempre, muito acima de pessoas normais como nós.
terça-feira, novembro 04, 2003
Warren Buffett e Nós
Warren Buffett é o segundo americano mais rico, logo a seguir a Bill Gates. A sua fortuna foi conseguida ao longo do tempo, numa sucessão de êxitos financeiros muito consistentes e de grande amplitude, intercalada com raros insucessos.
Muitos associam-no aos grandes especuladores dos mercados, à semelhança de um George Soros, por exemplo. Nada mais errado! Warren Buffett é um investidor de muito longo prazo, que compra grandes lotes de acções, ou de outros activos, com o objectivo de os deter por um período de tempo indeterminado, se possível para o resto da vida, desde que mantenham uma rentabilidade adequada.
Ele tem deixado de ganhar muito dinheiro ao não investir próximo do pico das subidas mais exuberantes. Isso aconteceu em 1998/1999 e está de novo a ocorrer nesta altura, em que tem várias dezenas de biliões de dólares em cash sem nenhum entusiasmo para os aplicar.
Um dos seus princípios básicos é “tentar ser receoso quando outros são gananciosos, e ganancioso só quando os outros têm receio”. Parece fácil, mas é extremamente difícil.
É importante referir que, desde 1970, todos os seus investimentos são efectuados através da sua holding Berkshire Hathaway, baseando a sua estratégia em investir em empresas sólidas e com boa taxa de crescimento em cuja actividade acredita após um estudo exaustivo. Atendendo ao enorme valor dos activos de que dispõe, a geração de cash flow da holding de que é o principal accionista, tem uma dimensão exorbitante.
Transaccionar activos cujo conhecimento dominamos, após estudo profundo, não seguindo os exageros da multidão!... Estes princípios, salvaguardadas as devidas proporções, podem e devem ser aplicados aos investimentos de qualquer um de nós.
Claro que Warren Buffett também efectua operações especulativas de curto prazo, nos mais diversos activos, as quais no entanto constituem uma ínfima percentagem da sua carteira de aplicações.
Independentemente do prazo normal de trading/investimento de cada um de nós, é bom não esquecer ainda um outro dos seus princípios, este especialmente dirigido às acções: “se não estiver disposto a conservar uma acção por 10 anos, não pense sequer em tê-la por 10 minutos”.
Portanto, onde julgávamos ver um especulador feroz, de curto prazo, atento a toda e qualquer oportunidade, manipulador de empresas, vamos antes encontrar um verdadeiro investidor de enorme dimensão, bastante cauteloso, comprador de participações em multinacionais ou da totalidade do capital de outras empresas de grande rentabilidade, com o objectivo de as manter e desenvolver.
Muitas vezes cometemos um dos erros mais graves que um investidor/especulador normal deverá tentar evitar (excluindo o daytyrading, que é um caso especial). É o de andarmos atrás de variações de muito curto prazo, transaccionando com perdas repetidas, ou não deixando correr os lucros, quando deveremos “ignorar flutuações a curto prazo, excepto se elas invalidarem as expectativas de médio/longo prazo”.
Este é um erro que Warren Buffett nunca comete. Claro que com o dinheiro que ele tem, poderia ter uns devaneios e entrar mais na zona de risco. Mas o negócio dele não é perder dinheiro! Nós, com o dinheiro que temos, é que não podemos mesmo facilitar e fazer experiências, só para ver se dá. Mas para que o risco não venha ter connosco quando não é convidado, precisaremos de fazer uma boa preparação e de investigar e estudar devidamente todos os activos que negociamos.
Warren Buffett é o segundo americano mais rico, logo a seguir a Bill Gates. A sua fortuna foi conseguida ao longo do tempo, numa sucessão de êxitos financeiros muito consistentes e de grande amplitude, intercalada com raros insucessos.
Muitos associam-no aos grandes especuladores dos mercados, à semelhança de um George Soros, por exemplo. Nada mais errado! Warren Buffett é um investidor de muito longo prazo, que compra grandes lotes de acções, ou de outros activos, com o objectivo de os deter por um período de tempo indeterminado, se possível para o resto da vida, desde que mantenham uma rentabilidade adequada.
Ele tem deixado de ganhar muito dinheiro ao não investir próximo do pico das subidas mais exuberantes. Isso aconteceu em 1998/1999 e está de novo a ocorrer nesta altura, em que tem várias dezenas de biliões de dólares em cash sem nenhum entusiasmo para os aplicar.
Um dos seus princípios básicos é “tentar ser receoso quando outros são gananciosos, e ganancioso só quando os outros têm receio”. Parece fácil, mas é extremamente difícil.
É importante referir que, desde 1970, todos os seus investimentos são efectuados através da sua holding Berkshire Hathaway, baseando a sua estratégia em investir em empresas sólidas e com boa taxa de crescimento em cuja actividade acredita após um estudo exaustivo. Atendendo ao enorme valor dos activos de que dispõe, a geração de cash flow da holding de que é o principal accionista, tem uma dimensão exorbitante.
Transaccionar activos cujo conhecimento dominamos, após estudo profundo, não seguindo os exageros da multidão!... Estes princípios, salvaguardadas as devidas proporções, podem e devem ser aplicados aos investimentos de qualquer um de nós.
Claro que Warren Buffett também efectua operações especulativas de curto prazo, nos mais diversos activos, as quais no entanto constituem uma ínfima percentagem da sua carteira de aplicações.
Independentemente do prazo normal de trading/investimento de cada um de nós, é bom não esquecer ainda um outro dos seus princípios, este especialmente dirigido às acções: “se não estiver disposto a conservar uma acção por 10 anos, não pense sequer em tê-la por 10 minutos”.
Portanto, onde julgávamos ver um especulador feroz, de curto prazo, atento a toda e qualquer oportunidade, manipulador de empresas, vamos antes encontrar um verdadeiro investidor de enorme dimensão, bastante cauteloso, comprador de participações em multinacionais ou da totalidade do capital de outras empresas de grande rentabilidade, com o objectivo de as manter e desenvolver.
Muitas vezes cometemos um dos erros mais graves que um investidor/especulador normal deverá tentar evitar (excluindo o daytyrading, que é um caso especial). É o de andarmos atrás de variações de muito curto prazo, transaccionando com perdas repetidas, ou não deixando correr os lucros, quando deveremos “ignorar flutuações a curto prazo, excepto se elas invalidarem as expectativas de médio/longo prazo”.
Este é um erro que Warren Buffett nunca comete. Claro que com o dinheiro que ele tem, poderia ter uns devaneios e entrar mais na zona de risco. Mas o negócio dele não é perder dinheiro! Nós, com o dinheiro que temos, é que não podemos mesmo facilitar e fazer experiências, só para ver se dá. Mas para que o risco não venha ter connosco quando não é convidado, precisaremos de fazer uma boa preparação e de investigar e estudar devidamente todos os activos que negociamos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)