segunda-feira, setembro 22, 2003

Nível de vida (3)

Baixos salários ainda são importantes


Devido a diversas situações de fecho de empresas, pus-me a pensar na actual situação dos nossos sectores de têxteis e de calçado. As dificuldades na produtividade, no avanço tecnológico e nas economias de escala, são três factores, para além de outros, que tornam problemática a sua modernização. No entanto, a concorrência dos países asiáticos, baseada em salários baixíssimos, é o factor mais negativo de todos.

Com este panorama, na Europa, as empresas de maior dimensão estão a deslocalizar-se ou em vias de o fazer, para países como Marrocos, Roménia e Bulgária, sempre à procura de baixos salários.

Neste ponto, é muito interessante relembrar uma das grandes expectativas de grandes economistas, no campo da competitividade, os quais, nas décadas de 80 e 90 (e mesmo antes), acreditavam nas seguintes tendências: (1) gradual diminuição da diferença de salários entre os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento; (2) redução muito sensível do peso do factor mão-de-obra nos custos de produção pela via do esperado grande aumento do investimento tecnológico; (3) os países de baixos salários do Extremo Oriente, deixariam de ser uma ameaça competitiva, tendo que se preocupar com a qualidade, design, etc.

Como o engano foi grande! Não só nos têxteis, mas na generalidade dos sectores, os custos de pessoal são o factor decisivo, mesmo quando estão em causa trabalhadores muito qualificados (como é o caso da Índia no suporte informático a grandes empresas dos EUA).

terça-feira, setembro 16, 2003

Milhões!...

Ao voltar de férias, estou a actualizar as notícias e informações sobre os mercados, seleccionando as que, na minha opinião, merecem mais atenção. Parece, eu digo parece, que a eterna luta Bulls vs Bear está a ser ganha de forma cada vez mais clara pelos primeiros, independentemente de se manterem os biliões de dólares de dívida da grande maioria das big caps mundiais e dos triliões de défice comercial dos E.U.A, aliás sempre em crescimento acelerado.

Não há dúvida que estamos numa época em que notícias de biliões e triliões nos passam pelos olhos (através do monitor do PC, bem entendido!), a uma velocidade diabólica, e já ninguém liga a isso…

Também parece que a retoma começa a despontar no horizonte, isto se a neblina matinal não me estiver a enganar. Se for mesmo verdade, pode vir com uma força inesperada, fazendo com que todas as bolhas sejam reactivadas e fiquem cada vez mais redondas. Será que estamos só a meio da subida?

Mas no meio dos “montes” de informação, também me passou pelos olhos uma pequena história sobre o nosso conhecido Dick Grasso, personagem simpática para todo e qualquer visitante VIP da New York Stock Exchange, de que é o respectivo Chairman.

Pois o Sr. Grasso “levou para casa” recentemente, em remunerações especiais e incentivos, a engraçada quantia de 140 milhões de dólares (130 milhões de euros ou 26 milhões de contos, desculpem lá, para ainda melhor percepção). Logo por azar, o Presidente da SEC, instituição que é uma espécie de Inspecção-geral dos Mercados nos EUA, quer saber ao tostão como é que foi calculado aquele valor. Veremos no que dá!

Triliões, bolhas, retoma, Grasso, dólar, EDP, Outubro… fico a pensar nisto tudo e em muitas outras coisas, esforçando-me por relacionar os dados, tentando chegar perto da chave deste enorme puzzle.

Continuo a pensar e pasmo: 3 ou 4 triliões de défice comercial acumulado dos states e o mercado até dá um prémio subindo como sobe; centenas de biliões de dívidas de enormes empresas que esperarão outra oportunidade para limpar o passivo; muitos milhões de dólares para CEO´s à moda yankee, os quais têm como maior objectivo bater as estimativas definidas por eles próprios. Enfim, seja o que for que o futuro nos reserve, a situação está longe de ser brilhante!

sábado, setembro 13, 2003

Nível de vida (2)

Um pôr-do-sol avermelhado já não é o que era


Um jantar à beira-mar, a dois, olhando o sol a desaparecer no horizonte, que logo se torna vermelho prenunciando uma noite esplêndida, é realmente uma coisa boa. No entanto, embora estivéssemos na esplanada, havia uma televisão ao longe, lá bem dentro do restaurante, que não nos deixava esquecer dos incêndios, esta nova desgraça portuguesa.

Como é possível, ano após ano, mês após mês, incêndio após incêndio, andarmos sempre nesta desorganização crassa, nesta falta de comando a todos os níveis, nesta imprevidência gritante que é a falta de prevenção, de cuidado e de civismo? O que é que ainda teremos de passar para mudarmos, para nos modernizarmos, nos educarmos, para deixarmos de pensar a todos os níveis, “logo se vê”, “para o ano logo se vê”!?

Por favor, neste caso, mais inquéritos e apuramento de responsabilidades, não! Devemos ser nós, seguramente devemos ser todos nós a assumir a responsabilidade, e eu espero que quem nos representa, e faz a gestão do nosso País, salte para cima de uma mesa e fale bem forte o que deve ser feito, quem deve fazer o quê e quem deve deixar de fazer seja o que for!

Em termos de nível de vida, por aqui, estamos completamente conversados!!
Ponto de Situação

1. Nível de vida” - vou continuar, numa base desejavelmente diária, a escrever sobre assuntos directa ou indirectamente ligados a este tema.

2. EUR/USD – este cross, que acompanho há anos, é um verdadeiro reflexo das forças financeiras mundiais em combate incessante. Sim, não tenham dúvidas, é aqui que tudo se decide, já que o USD e o Euro são, de longe, as duas moedas mais importantes do planeta (por aquela ordem…). Também vou, regularmente, continuar a referir as fases mais interessantes desta verdadeira guerra.

quinta-feira, setembro 11, 2003

Nível de vida

É uma noção fundamental nos dias que vão correndo. Para ser possível concluir se ganhamos bem ou mal, se os produtos e serviços que adquirimos são mais ou menos caros, se a casa em que vivemos, seja própria ou alugada, tem ou não um custo ou uma renda a roçar o impossível, se os nossos horizontes são a perder de vista ou curtos em demasia.

Devemos estar conscientes que factores decisivos vão implicar a existência de diferentes necessidades, a serem satisfeitas por cada um de nós. Assim, a idade, o estado civil, o número de filhos, o local onde se vive, o nível de instrução, a profissão, os gostos e as expectativas pessoais e tantas outras coisas, tornam a qualidade de vida quase um assunto pessoal, às vezes bem guardado dentro de cada família.

No entanto, abstraindo dos inúmeros casos particulares, vou dar ênfase a aspectos chave da vida corrente, para conseguir ver mais claro no que respeita à verdadeira situação em que nos encontramos. Depois podemos comparar o nosso nível de desenvolvimento como País, com o de outros, como os União Europeia alargada e não só.

Tenciono somente dar umas pinceladas sobre este assunto, apresentando diversos tipos de comentários, que nada terão a ver, no entanto, com um verdadeiro estudo sobre a matéria. Na minha opinião, este assunto é tão interessante que permitirá tocar noutros temas com ele relacionados, como complemento ou extensão informal.

É isto que vos proponho para os próximos tempos. Em cada dia, abordarei um aspecto da questão, com o objectivo de chegar a conclusões e, fundamentalmente, vou escrever em voz alta, como quem espera ser ouvido.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Luta sem tréguas

Espero que tenham gostado da minha primeira crónica nesta página. É minha intenção fazer aqui um breve comentário quase diário e um artigo mais extenso talvez uma ou duas vezes por semana. Como já viram, os temas andarão sempre à volta dos mercados financeiros, e de situações ligadas à economia e às finanças, escritos num tom propositadamente leve, umas vezes mais irónico e sorridente, outras vezes um pouco mais sério.

Está bastante renhida a luta entre o euro e o USD. Estamos na fase em que todos os Países (e por maioria de razão, a União Europeia) tentam ver desvalorizadas as respectivas moedas, por motivos de competitividade comercial. Para isso intervêm fortemente no Forex, uma vezes com mais sucesso do que outras. É por esta razão principal que o USD pôde abrandar a descida que vem fazendo desde princípios de 2002.

Comentador

terça-feira, setembro 09, 2003

O Especulador Feliz

Estou entusiasmado com o meu trading! Que vida tão interessante que arranjei!!

Depois de perceber que o Chairman do Fed, Alan Greenspan, está a cuidar da nossa vida, este bullmarket não me escapa mesmo. Não há perigo de deflação, estamos naquele célebre 2º. Semestre, em que os corporate earnings vão subir e há-de haver gastos de consumo e de investimento a torto e a direito. Não pode falhar!

A minha disposição é imparável, dando uma vista de olhos aos yields, compro bonds na Europa, treasuries nos States, equities em todo o lado. Orgulho-me de não ter qualquer receio de bolhas, pois se é para subir contem comigo!

Poderão perguntar-me se as valuations não estarão exageradas? E eu respondo: meus caros amigos, num mercado que está a subir, o que interessa são os inflows e o momentum, nada mais. E não se deixem dominar pelo medo, mas por favor tenham alguma ganância. Ou vice-versa, que também serve.

E eu ainda por cima diversifico esplendidamente. Por exemplo, também estou nas currencies, nos crosses mais importantes. O EUR/USD então enche-me as medidas, posso estar bull umas vezes no euro outras no dólar, a volatilidade é tanta que as tendências fortes não são beliscadas por profundas correcções. Só não gosto é de lateralizações com um range muito estreito. Já se for uma boa consolidação, isso é sempre bem vindo, pois a seguir é andar para a frente a todo o gás.

E o ouro, prata e afins? Há quem diga que se trata da quimera do ouro e da ilusão permanente da prata? Estão enganados!! Isso é não conhecer os fundamentais da economia e os valores permanentes a que nos podemos agarrar. Portanto, o bullion, os metais preciosos em barra, será um remédio para os dias menos bons, ou até para ter alguma base seja o que for que aconteça.

Outra coisa que aprendi é a ter flexibilidade. No caso de uma enxaqueca do Sr. Greenspan, meto logo a agulha para os curtos, mas tem de ser uma coisa a valer, do género breakdown com bastante volume. Mesmo aí ninguém me agarra, pois estou sempre atento aos contrarian indicators e às negative divergences. É que nisto dos mercados financeiros, temos de deitar mão a todos os instrumentos.

Mas, em contrapartida, há commodities que constituem grandes oportunidades. Por exemplo, nos futuros e opções de crude oil, copper, cattle, sugar, grains, e o mais envolvente de todos, cocoa, é tudo óptimo: não é preciso perceber nada destes sectores económicos, basta entrar nas alturas certas e ler bem os gráficos que o dinheiro entra às carradas!! Eheheh … Fácil, não é?

No meio desta valente artilharia que eu, sem dó nem piedade, disparo em todas as direcções, há por vezes (e a situação é completamente excepcional) alguns cuidados a ter. Por exemplo, os soybeans e o coffee são verdadeiramente demoníacos. Sabe-se exactamente qual é o padrão técnico das suas cotações ao longo do ano. Pois mesmo assim, só traders profissionais especializados conseguem ganhar dinheiro aqui. É realmente um mistério que, rapidamente, vou ter que desvendar.

E não me levem a mal, não pensem que é a vaidade que me faz falar. Pelo contrário, estou a contar aspectos que decerto interessam a toda a gente, aproveitando para me livrar do stress acumulado, pois estou em operações financeiras globais de alto nível, mesmo de cortar a respiração.

Tenho, é certo, por vezes alguns momentos de cansaço. É nessas alturas que, para descontrair, invisto em derivativos especiais. Deste modo, para relaxar mesmo, nada melhor do que um bom ratio option spread, que assim o tempo não custa a passar, é como beber um shake de rum, cola e canela, numa praia escondida das Pequenas Antilhas.

E não julguem que eu só falo de mercados estrangeiros. Não senhor! Por exemplo, a EDP não me escapou e acho que ainda me vai dar mais alegrias. Estas utilities são deliciosas! Já com os bancos, é preciso estar sempre de pé atrás. Até o BPI se lembrou de quebrar o suporte depois de uma vigorosa trend ascendente de largos meses. Lá tive de fazer um profit taking, o que é que se há-de fazer. Por outro lado, tenho warrants de todas as qualidades e feitios, alguns completamente out-of-the-money e com deltas insignificantes. Penso que, para estes últimos, a culpa só pode ser do market maker!

E assim vou continuar completamente dedicado ao trading, sempre picking the best e mantendo a necessária downside protection. Não há nada melhor do que, dominando o Big Picture, fazer um bom position trading com o indispensável money management.

Comentador


Nota importante

Este texto não pretende reflectir a opinião do seu autor. Tem como objectivo tentar explicar um pouco a realidade sob a luz da simples ironia. Por outro lado, qualquer operação que um leitor desprevenido decida ensaiar, com base nas observações acima expressas, não o tornará certamente famoso, antes o deverá levar directamente à falência.